10 agosto 2008

Um pouco mais sobre transplante

Quando fiquei sabendo que precisaria fazer o transplante, muita coisa passou pela minha cabeça. Se qualquer cirurgia assusta, imaginem um transplante no olho! No entanto, tudo foi tranqüilo e a cirurgia durou o tempo de ir ao shopping fazer umas comprinhas e voltar para casa.
Mas se tudo é tão simples, por que ainda se acredita que o transplante de córnea é um verdadeiro bicho-de-sete-cabeças? Vários tabus rodeiam o assunto, como tráfico de órgãos e a lenda de que a pessoa passa a enxergar 100% imediatamente após o transplante.
O maior problema do transplante não está na cirurgia, que é simples e segura, mas na grande falta de informação por parte da população, que não é preparada para a doação de órgãos. Esse contexto acaba gerando uma grande fila para conseguir a córnea.
A córnea é a primeira parte do olho, a camada externa através da qual a luz é “filtrada”. Quando enxergamos, a luz passa pela córnea, depois pelo cristalino e atinge a retina. A córnea é como se fosse uma lente centralizadora desse foco. Ela e o cristalino são os responsáveis pelo grau da pessoa. É a lente mais poderosa do olho.
Na maioria dos países, a principal causa de transplantes é o ceratocone,
As distrofias também são grandes causas de transplantes, principalmente a de Fuchs. São doenças genéticas que mudam a transparência da córnea. Geneticamente, pessoas que têm essas distrofias passam uma informação errada e as proteínas passam a produzir células opacas. Outras situações em que o transplante é indicado incluem cicatrizes pós-trauma causadas por acidentes de automóveis e úlceras decorrentes de lentes de contato mal adaptadas e mal conservadas. Esses casos podem levar à lesão ou até a perfuração da córnea.
Depois que a doença é diagnosticada começa o processo de espera. O médico inscreve o paciente numa fila chamada lista única de banco de olhos, organizada por regiões. A única maneira de conseguir uma córnea mais rapidamente acontece em casos de emergência. Doenças que deixam o olho sob risco de perfuração, como úlcera de córnea, retransplantes ou crianças têm privilégio.
Chegada a tão esperada córnea, o procedimento pode ser marcado. Há dois tipos de transplantes: lamelar ou penetrante. O primeiro tipo de operação é indicado em casos de patologias superficiais, como degenerações da córnea, e consiste em retirar e substituir algumas camadas do tecido. Nos casos mais sérios é indicado o transplante penetrante, quando a córnea inteira é retirada e trocada.
Após a cirurgia são indicadas diversas medicações para evitar a rejeição do transplante. São receitados antibióticos, corticóides, lágrimas artificiais e gel lubrificante. Depois as doses de medicamentos são diminuídas progressivamente e os pontos são retirados após alguns meses.
O pós-operatório é importantíssimo nesse processo. É preciso ficar atento a qualquer modificação, por menor que seja, do olho. Olho lacrimejando ou vermelho deve ser comunicado ao médico rapidamente, pois podem indicar rejeição.
Uma série de cuidados também se faz necessário: evitar pegar peso, banhos de mar ou piscina, exercícios físicos, trabalhos caseiros. Para as mulheres, salão de beleza só para lavar os cabelos! É bom evitar tintura, maquiagem, uso do secador por um bom tempo.
Mas a maior inimiga do transplante é a fila gigantesca que se enfrenta na maioria dos estados para se conseguir uma córnea.
O que falta nos grandes hospitais, nos grandes centros, e talvez falte ao governo federal, estadual e municipal é um incentivo ao transplante, uma campanha de educação da população.
A doação é parte essencial para a resolução desse problema. Diferentemente do que ocorre na captação de tecidos vascularizados, como rins, coração ou pulmão, para que a córnea seja obtida não é preciso que o doador tenha sofrido morte cerebral. O tecido pode ser captado até seis horas após o óbito do paciente. As pessoas ligadas a essa área têm que se mobilizar para, nesse intervalo, convencer as famílias da importância da doação e obter as córneas. É uma causa nobre, que honra o doador.
É preciso desconstruir os mitos em torno da doação de tecidos, mostrar que existe todo um sistema voltado contra a pirataria e que esses órgãos serão utilizados para salvar a visão ou até a vida de outras pessoas.
Se bem informada, a população certamente terá maiores condições de doar.

4 comentários:

Lucas Oliveira disse...

é um interessante blog. Gostei desta postagem e sei que o medo vem à tona quando alguém precisa de algum transplante.
Não sei o porque, mas tenho medo - na verdade é fobia - de ver os olhos de uma pessoa.
Se eu tenho que olhar nos olhos, procuro olhar bem na menina do olho.

Admiro as pessoas que doam orgãos de seus ente-queridos para salvar muitas vidas.

Conheço religiões que são contra a doação de órgãos.

Mas tenho certeza que o transplante, é dadiva de Deus, afinal... está salvando vidas.

Lucas de Oliveira

eu nem sei mesmo quem sou disse...

Querida, pode ter certeza que o teu pai está olhando para você nessa hora, nunca deixaremos de ter os nossos pais, eles estão presentes...
:]
Achei um blog muito interessante!
Beijos

The Mars! disse...

Bem interessante o post ,bela iniciativa abraço!

Anônimo disse...

Oi tudo bom?!

Voltando para dizer um oizinho e desejar uma linda semana ! Como sempre os textos do seu blog são ótimos e muuuuuito interesantes !

beijos