29 junho 2012

Um pouco mais sobre rejeição

As complicações do transplante de córnea podem ser divididas em intra-operatórias, pós-operatória precoce e pós-operatória tardia. As complicações intra-operatórias, com hemorragia, dificuldade de trepanação, podem ser contornadas através do uso meticuloso das técnicas cirúrgicas e instrumentos modernos. As complicações precoces ocorrem na primeira semana e incluem problemas com o leito operatório, pressão intra-ocular, hemorragia, infecção e defeitos epiteliais, que devem ser adequadamente tratados, visando uma maior sobrevida do transplante. Entre as complicações pós-operatórias tardias como defeito de cicatrização, astigmatismo residual e infecção, a mais clássica é a rejeição do botão transplantado, que pode levar à falência do tecido doador. A falência do botão é dita primária, quando o edema corneano é grave e persiste por mais de 10 dias após à cirurgia. Ocorre por função endotelial insuficiente, secundária a trauma cirúrgico ou tecido doador inadequado. O tratamento inicial é feito com o uso de colírios de corticóide em alta dose (dexametasona 0,1% ou prednisolona 1%), não sendo necessário o uso de corticóide sistêmico e subconjuntival. O novo transplante deve ser feito o mais precoce possível. 
A incidência da rejeição de transplante corneano depende de vários fatores pré-operatórios, como a vascularização da córnea receptora e o número de transplantes previamente realizado no paciente. Em casos considerado de bom prognóstico, a incidência varia de 2,5 a 3,5%. Em casos de pior prognóstico esta taxa é de 40 a 65%. A maioria das rejeições ocorre principalmente nos primeiros 6 meses de pós-operatório, mas pode ocorrer em qualquer época. Os sintomas podem ser mínimos no início, até que se instale marcadamente a rejeição com diminuição de acuidade visual, dor discreta e fotofobia. É importante que os pacientes estejam orientados sobre a sintomatologia, para que procurem assistência médica assim que observados. Qualquer camada corneana pode ser rejeitada separada ou simultaneamente. A rejeição epitelial é caracterizada por um defeito epitelial linear, que progride na córnea podendo apresentar infiltrados subepiteliais. Na rejeição estromal é observada uma invasão de vasos no estroma, com edema inicialmente periférico que progride para o centro. A rejeição endotelial é diagnosticada com a presença de linhas de precipitados ceráticos no endotélio, edema estromal e reação de câmara anterior. O tratamento de rejeição vai depender da sua gravidade e é feito basicamente com colírios de corticóide tópico em altas doses e colírios cicloplégicos. Em casos mais graves deve ser feito corticóide subconjuntival e corticoterapia sistêmica. O uso de agentes imunossupressores como a cicosporina, tanto tópico como sistêmico é reservado para casos isolados de alto risco. Felizmente o transplante de córnea evolui com sucesso em 85 a 95% dos casos. Com a evolução nos meios de preservação, surgimento de novas drogas imunossupressoras, desenvolvimento da imunologia e cirurgia refrativa, novas perspectivas estão sendo abertas no campo do transplante corneano.