13 junho 2008

Depoimento de Márcia Cavalcante

No dia 28.06.2006, meu marido sofreu um Aneurisma Cerebral. Não tinha nada, estava bem de saúde, foi de repente. Era uma pessoa maravilhosa, muito espiritualista, sempre me dizia: quando eu morrer pode doar tudo. Eu, uma pessoa muito sensível e medrosa, nunca queria falar sobre esse assunto. Aos poucos ele foi mudando o meu pensamento quanto a doação, chorava sempre ao ver notícias sobre pessoas esperando um orgão para sobreviver.
No dia seguinte, ele fez uma cirurgia para tentar clipar o coágulo, mas não adiantou...
Ele estava internado no Hospital Bandeirantes na Liberdade, quando cheguei para visitá-lo na UTI e o médico me avisou que ele estava com morte cerebral. Foi um choque! O mundo desabou na minha frente, perdia a pessoa que amava, um pai e um marido maravilhoso.
Antes que os médicos me pedisssem, eu informei que gostaria de doar os seus orgãos...
Meus filhos de 15 e 19 anos na hora concordaram e fizemos a doação.
Eu não tinha condições de nada, só que a burocracia ainda é tremenda, tivemos que esperar dois dias para poder cremá-lo, (mais uma vontade dele), a família queria que eu desistisse da doação, mas não desisti.
A dor que eu e meus filhos estávamos passando era imensa, ainda é, mas nós pensávamos que pelo menos enquanto chorávamos, sabíamos que pessoas felizes iríam poder sobreviver com os órgãos dele. Isso nos reconfortava.
E sei que ele que está junto de Deus e feliz por nossa atitude. Eu e meus filhos também somos doadores!
Gostaria que todos tivessem a mesma atitude, pois podem salvar muitas vidas, não só doar córneas, mas outros orgãos também.
Eu só não queria doar pele e ossos, pois achava que tirariam tudo, mas me explicaram que tiram só um pedaço do osso da perna e um pedaço de pele, não são todos os ossos e a pele como eu imaginava, então doei tudo.
Só é uma pena que não possamos conhecer os receptores, mas mesmo assim, fico feliz em saber que há pedacinhos dele sobrevivendo em outras pessoas.

Márcia Cavalcante


São de atitudes como a da Márcia que milhares de pessoas, que querem viver plenamente, esperam.
Parabéns, Márcia pelo teu gesto de amor ao próximo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sou o filho mais velho da Márcia, fiquei muito orgulhoso em ver esta matéria. Fico muito feliz em saber que meu pai ajudou muitas vidas e agora com esta matéria pode ajudar mais ainda servindo como exemplo. Tenho certeza de que ele esta muito feliz e orgulhoso pela atitude de minha mãe. A dor da perda é muito grande e nada cura, mas da uma grande amenizada em saber que outras pessoas ganharam uma nova chance de viver. Espero que um dia esta burocracia "idiota" termine e todos possam ser doadores...