20 junho 2008

Depoimento de Angela Pompeu - mãe de um transplantado

Tudo começou quando o Igor tinha 22 anos, em 2002. Foi tudo muito rápido. Comecei a perceber que tudo que ele lia, quase encostava no rosto. Sugeri que ele procurasse a nossa oftalmologista, mas como a maioria dos jovens, achava que nada poderia acontecer com ele e demorou a aceitar minha sugestão.
Quando resolveu finalmente ir, foi diagnosticado Ceratocone.
Encaminhado para um especialista e feito todos os exames, o Ceratocone foi confirmado nas duas córneas.
Foi um baque. A princípio, ele começou a usar óculos com um grau alto (7º)
A cada 6 meses voltava na oftalmo para avaliar a evolução do quadro. Como continuava aumentando passou a usar lentes rígidas.
Foi uma época de desespero, pois não houve adaptação. Era alergia, conjuntivite, as lentes caíam, ele voltava a usar óculos.
Ate que um dia ele bateu o carro. A médica, então, indicou lente gelatinosa com validade de 1 ano. Apesar de se adaptar melhor, a acuidade visual não era boa.
Em 2007, a médica indicou para o Igor um cirurgião, pois sua córnea estava quase trincando.
Após a primeira consulta e uma bateria de exames o caso dele foi qualificado como URGENTE e no dia 10 de outubro de 2007, ele entrou na fila do transplante.
A espera foi terrível, havia mais de mil pessoas na frente dele, mas, pela urgência, no dia 13 de novembro ele recebeu um telefonema avisando que tinha uma córnea à disposição.
No dia 17/11/2007, às 8 horas da manhã foi feito o transplante no olho esquerdo. A cirurgia correu bem, com sedação e anestesia local.
Para uma mãe, essa espera é angustiante.
Meu filho recebeu alta com o tampão no olho e uma batelada de colírios.
No dia seguinte, ao voltarmos para a retirada do tampão foi constatada uma alergia, um princípio de rejeição. Injeção, mais remédios caríssimos contra a rejeição, afastamento do trabalho.
Ficou 15 dias afastado do trabalho. Todos os cuidados necessários foram feitos. Eu ligava sempre lembrando a hora dos medicamentos.
Nesse período, de Natal e Ano Novo, com o olho direito sem enxergar também, Igor entrou em depressão, porém o carinho ajudou-o a transpor esse momento.
Com menos de 3 meses o médico iniciou a retirada dos pontos (foram 28 pontos).
Após uma dessas retiradas, Igor estava no trabalho quando teve outra reação alérgica. Isso o deixou desanimado e nos preocupou muito também
Ele ainda não tem a visão que acho que deveria ter. Deve entrar na fila para fazer o olho direito. No entanto, ele está relutante, traumatizado demais. Acho que cada pessoa tem uma reação diferente, não é mesmo?
De uma coisa eu tenho certeza: da gratidão ao seu doador. E nós também..
Gostaria que ele consultasse outro especialista, mas ele toma suas próprias decisões.O que faço é tirar minhas dúvidas na Comunidade e dividir minha angústia de mãe com outros transplantados.

Angela, obrigada por ter feito esse depoimento-desabafo.
Transplante é sempre uma incógnita. Na sua maioria, dá certo. Outros sofrem com rejeição, alergia...
Como qualquer outro transplante, a rejeição é companheira para o resto da vida, sendo pior no primeiro ano.
Estarei sempre aqui tentando tirar tuas dúvidas e te dando força.

2 comentários:

Anônimo disse...

Like so posso lhe agradecer!!!!!!!!!!!!!!!! Sem palavras, somente gratidão a vc que nos proporciona esse depoimento e ao doador da cornea do Igor! Que Deus ilumine seu caminho com essa iniciativa linda, parabens

Anônimo disse...

Adorei o blog , só quem passou pelo susto de saber que possui uma doença em que a cura é um transplante até a angustia de ficar na fila no banco de olhos e a mistura de sentimentos que varia da alegria e medo quando chega a hora da cirurgia .
Identifiquei-me muito com algumas histórias , o relato da mãe que tem o filho que passou pelo transplante no faz ver o quanto a familia também sofre junto com nós e como é importante o apoio de quem amamos .
Parabéns e obrigada pela iniciativa