Além de deformidades mais comuns, como miopia, astigmatismo e hipermetropia, as lentes podem atender pacientes com distrofias complexas, como o ceratocone, uma doença degenerativa do olho, que provoca mudanças estruturais na córnea, deixando-a mais fina e com formato cônico e causando distorção substancial na visão. Segundo o professor Davies William, coordenador do projeto de desenvolvimento de lentes específicas para portadores da doença, hoje o ceratocone é atendido por meio de incisões cirúrgicas ou de lentes terapêuticas, mas essas alternativas, embora de grande utilidade, não atendem a todos os casos. “Nem todos os pacientes
podem se sujeitar a uma cirurgia, seja por impossibilidades físicas e de saúde ou porque a própria estrutura da córnea não permite. Além disso, as lentes terapêuticas utilizadas hoje não resolvem o problema de forma adequada”, conta.
Além de oferecer uma alternativa feita sob medida para os pacientes com problemas visuais, a tecnologia traz como benefício o baixo custo envolvido. “O valor estimado para um par de lentes personalizadas, quando conseguirmos disponibilizá-las no mercado, deve ser semelhante ao que é pago, hoje, por um par de lentes tóricas (com formato adequado para correção de astigmatismo). Ou seja, é uma solução simples, barata e muito eficiente”, enfatiza o coordenador do projeto.
Empresas interessadas
As pesquisas tiveram início durante trabalhos do grupo para o desenvolvimento de um instrumento oftalmológico denominado Sensor de Frentes de Onda no Laboratório para Optrônica e Microtecnologias Aplicadas (OptMAlab). O objetivo do dispositivo é medir aberrações no olho humano, ou seja, identificar os problemas refrativos complexos específicos de cada paciente. Para tanto, os pesquisadores estabeleceram uma técnica baseada na corrosão química do silício para produção de uma matriz de microlentes, que seriam utilizadas no sensor.
No mesmo período, foi identificado o interesse de grandes empresas do mercado de oftalmologia pela produção de lentes de contato personalizadas. “As tecnologias disponíveis não ofereciam reprodutibilidade suficiente para as lentes. Demorava-se cerca de três meses para produzir um modelo que atendesse às especificações demandadas e não era possível repeti-lo rapidamente numa segunda lente”, explica Davies William.
Surgiu daí o interesse do grupo em utilizar sua tecnologia de fabricação de microlentes para a confecção de lentes de contato personalizadas. “Fizemos diversos estudos para verificar se a técnica era compatível e se era possível reproduzir uma lente personalizada a partir de um molde de silício. Os resultados foram positivos”, relata o professor. “Estamos, agora, realizando estudos sobre o melhor processo de replicação e o material mais adequado do ponto de vista de qualidade, de confiabilidade e de custo”, completa.
A tecnologia desenvolvida traz ainda outras possibilidades, como a fabricação de lentes intraoculares, ou seja, aquelas que substituem a lente natural do olho – o cristalino – em casos de catarata. Segundo o professor Davies William, os produtos disponíveis no mercado apresentam um problema conhecido como aberração esférica. “Uma lente ideal devia ter um formato semelhante a uma seção cônica. Como o formato comercial é esférico, isso provoca uma ligeira deformação nas imagens e perda de nitidez. A nossa tecnologia permite extrair essa aberração”, explica.
Agilidade na gestão facilita pesquisa
A execução do projeto contou com o apoio da Fundep e dos departamentos da UFMG. Segundo o professor Davies William, a Fundação é a responsável por cumprir todas as tarefas referentes ao trâmite administrativo dos recursos financeiros, desde o recebimento do recurso até a prestação de contas ao financiador. O analista de projetos Luiz Felinto Xavier, que responde pelos trabalhos na Fundep, detalha os serviços realizados.
“Foi um projeto de gestão tranquila que pôde utilizar toda a estrutura da Fundep, seja na parte financeira, de compras de equipamentos, insumos e materiais de consumo, pagamento de bolsas, controle de gastos com viagens e diárias, importação e acompanhamento das normas do financiador”, conta.
Para a realização dos estudos e testes, foi necessária a importação de um equipamento de escrita direta a laser, conhecido como LaserWriter. A ferramenta integra os equipamentos da chamada “Sala Limpa”, um laboratório de ambiente controlado onde parte dos desenvolvimentos práticos do projeto é realizada. “A Fundep foi responsável por todo o processo de importação, que foi realizado de forma rápida e sem impedimentos. Todas as nossas solicitações foram prontamente atendidas e pudemos utilizar tranquilamente todosos serviços da instituição”, completa o professor.